Publicado em 10/09/2021 - 17:21 Por Léo Rodrigues -
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A campanha anual de prevenção ao
suicídio que ocorre no Brasil desde 2014 sob o título de Setembro Amarelo
levanta nessa edição uma preocupação específica com o momento que o país e o
mundo atravessam. Em uma nota divulgada em seu portal eletrônico, Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) traz algumas palavras do seu
diretor-presidente, Paulo Rabello, sobre o risco do agravamento de quadros de
saúde mental em decorrência da pandemia de covid-19.
“É preciso que todos estejamos alertas e
que façamos o possível para assegurar a saúde das pessoas que convivem conosco.
Mesmo o novo coronavírus tendo afastado muitos pacientes dos consultórios e de
seus tratamentos, devemos recordar que, na medida do possível, os atendimentos
passaram a ser feitos de forma online,
o que foi autorizado pelos conselhos profissionais, possibilitando aos
beneficiários de planos de saúde manter o acompanhamento de seus tratamentos
que já vinham realizando”, frisou ele.
A campanha Setembro Amarelo é realizada
desde 2014 através da parceria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e
do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ao longo do tempo, a iniciativa ganhou a
adesão de outras entidades e também de órgãos públicos, desdobrando-se assim em
diversas ações. O mês de setembro é escolhido porque exatamente hoje, no dia
10, a Organização Mundial da Saúde (OMS) comemora o Dia Mundial de Prevenção ao
Suicídio. Na edição deste ano, o tema do Setembro Amarelo é "agir salva
vidas".
De acordo com o relatório Suicide Worldwide, publicado pela OMS em
junho, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio em 2019, o que representa
uma a cada 100 mortes. No Brasil, são aproximadamente 13 mil pessoas por ano. A maioria dos suicídios está
relacionada a distúrbios mentais, como depressão e transtorno bipolar.
O
Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, é um canal
permanente de apoio. Em diversidades cidades, há também um Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) que oferece auxílio em horários comerciais. O Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo telefone 192, ou o Corpo de Bombeiros,
pelo 193, devem ser acionados quando ocorrem casos de tentativas de suicídio.
Responsável pela regulação e
fiscalização da operação dos planos de saúde privados, a ANS alerta que
pequenas mudanças de comportamento podem ser indícios de sintomas de um quadro
mais grave, que pode evoluir para o suicídio. O diagnóstico precoce, o
tratamento e o acompanhamento são considerados essenciais. Para estimular
a prevenção, a ANS instituiu no final de 2018 a Certificação de Boas Práticas
em Atenção Primária à Saúde. Um dos critérios para se obter a certificação
plena é o desenvolvimento de ações relativas à saúde mental de seus
beneficiários.
“Entendemos que a atenção à saúde mental
na saúde suplementar deve ultrapassar a abordagem do quadro agudo e dos sintomas
ativos e possuir uma perspectiva ampliada e completa. Essa visão certamente tem
influências positivas no atendimento aos beneficiários e é importante que as
operadoras estejam atentas”, acrescentou Paulo Rebello.
Adolescentes
Divulgados hoje (10) pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), os resultados de uma pesquisa sobre comportamento
suicida entre adolescentes revelaram 15.702 notificações de atendimento nos
serviços de saúde do país no período de 2011 a 2014. A maioria dos casos
envolveu o grupo etário de 15-19 anos (76,4%), o sexo feminino (71,6%) e
pessoas brancas (58,3%). Quase 90% das ocorrências ocorreram na própria
residência e o meio mais utilizado foi o uso de medicamentos e outras
substâncias com objetivo de envenenamento ou intoxicação.
Também foram mapeadas internações
decorrentes de tentativas suicidas nas unidades de saúde do país entre 2007 e
2016. Foram 12.060 registros. O levantamento novamente mostrou predominância
dos casos envolvendo pessoas do sexo feminino (58,1%). A Região Sudeste foi a
que reuniu o maior número de internações por 100 mil habitantes.
O estudo incluiu ainda entrevistas em
profundidade com 18 adolescentes com comportamento suicida das cidades de Porto
Alegre e Dourados (MS). Segundo a Fiocruz, os relatos apontaram para a presença
significativa de vulnerabilidades no lar, como violências, falta de cuidado e
inexistência de apoio inter-relacional. As famílias desses jovens carregam
histórias de rejeições, maus-tratos físicos, problemas psiquiátricos como
ansiedade e depressão, agressões verbais, violência sexual e abuso de álcool e
drogas.
Além dos problemas familiares, os
depoimentos incluíram também outros elementos como desentendimentos e
rompimentos com namorados, bullying,
pressão escolar e interação em redes sociais virtuais. Um elemento que chamou
atenção dos pesquisadores é o fato de que todos os entrevistados relataram uma
história pregressa de suicídio familiar ou envolvendo amigos, colegas, vizinhos
ou conhecidos.
“Sobre o ato, praticamente todos
identificaram vários motivos disparadores. Entretanto, é recorrente a
constatação de que as motivações para as tentativas entram em um contexto de
vida já marcado por grande mal estar emocional, desafetos, insatisfações e
vulnerabilidades”, acrescenta a Fiocruz.
Edição: Valéria Aguiar
Fonte: agenciabrasil
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